terça-feira, 9 de dezembro de 2003

Fotografiando - Dez Histórias de Cristais
Sexta História


(Durante alguns dias, continuo a publicar Histórias de Fotografiar)




O retrato terá sido uma das primeiras euforias da turbulenta história da fotografia, sobretudo porque, nos inícios, o registo do rosto chegou a resultar de uma simples aparição algo imprevista (Carjat, Nadar!).
Toldos ao vento.
Antes da entrada em cena do manipulador Disderi.

Pouco tempo passou até que essa euforia acabasse por se transformar na viva denúncia de poetas, já que a memória, agora, passava a ser arrumada pela voluntariedade da razão. Baudelaire não terá sido, de facto, o único a dizê-lo.

Mas fê-lo com o fulgor do tempo ausente e prematuro. Fê-lo para adivinhar o tempo em que não viveu. Por paradoxo, talvez. É desse absurdo quase-perfeito que a fotografia acabaria, aqui e ali, por renascer. Ainda que entregando-se à impiedade cruel do seu enigma. Ou não fosse essa, em última instância, a sua natureza. A sua vertigem. O seu justo nome, afinal.

A vida torna-se, portanto, numa presença, já e sempre, adiada no que ela mesmo re-presenta. A vida, ela mesma, uma foto-grafia ?