Desilusionismos
O nosso amigo Avatares de um Desejo (gosto do nome) referiu e comentou o subtítulo deste blogue: desilusionismos. Aproveito para pensar um pouco em voz alta acerca dessa minha escolha.
Na nossa vida, é normal confrontarmo-nos com identidades que são encenadas como coisas feitas, delimitadas e quase perfeitas. Como se existissem identidades que correspondessem sempre à transparência fosse do que fosse. Como se o mesmo fosse um episódio derradeiro e não discutível. A este mundo em que tudo nos surge ilusoriamente igual a si próprio chamaria eu mundo ilusionista, à moda do aventuroso Méliès que tentou transformar o cinematógrafo, no seu tempo, em algo belo mas subordinado ao efeitismo e à sugestão imediatos.
Rever e pôr em causa o carácter provisório e frágil de uma identidade - o seu estado de falha, como já expus romanescamente - é, no fundo, como dizem os descontruccionistas, ilustrar a sua indecibilidade, ou seja, pôr a nu a vasta terra de ninguém que separa as ordens que teriam sido possíveis no seu edificar-se do conjunto de possíveis realizado que prevalece diante dos nossos olhos. É esta a atitude desilusionista. Mais do que magia, é sobretudo uma subversão ou uma contaminação que se processa entre a desagragação e a edificação seja do que for. É esse o leme da própria escrita, afinal.