Halloween
Hoje, lá para a noitinha, não vai ser apenas dia de contagem de votos ou de diálogo meio surdo acerca da retoma da economia. Hoje vai ser também dia de bruxedos globais. Mas a coisa já começou. Bastou ter saído de casa e ter dado entrada no meu café de bairro. E foi ver aí os paninhos negros sob sapos de borracha e velas acesas entre fios suspensos, a simularem teias de aranha e outros veios íntimos que pululam nos túmulos entreabertos. E foi ver os fantoches de olhos muito abertos com garfos de diabinho e, junto ao tecto, cobrindo-os, um lustre de vidro tosco de onde pendia uma lua negra a olhar para as pingas de sangue recortadas em papel de cenário e coladas no soalho por mão desajeitada. Um fulgor de café.