segunda-feira, 8 de setembro de 2003

O cão Ulisses



Não sei por que me olha com aqueles olhos. Nem sei como se esvai o que paira na inquietação daquele olhar. Nem sei da razão desta fidelidade tão última, tão derradeira, tão ilibada de todo o pecado. Ulisses é o meu cão. Tem focinho preto e as orelhas muito escuras a contrastar com a densidade do pelo amarelo que tem o ocre e a mancha tardia e ensolarada dos fenos. Apenas as patas nas suas extremidades são brancas, assim como a nuvem longilínea que lhe prolonga a estria do peito, desde a suculenta lanugem do bucho à fugidia e famigerada barbela. O Ulisses deita-se, resfolga e por fim incita a cauda, de modo langoroso e pausado, ao seu destemido vaivém de hélice febril. Está aqui ao meu lado a escrever o seu próprio e misterioso blogue. Com o olhar. Com a mestria da sua expressão assombrada e ao mesmo tempo luminosa. É assim o Ulisses.




Ali Alatas: os pactos

O odiado de 09/99 é o agora aprazível convidado das terras de Timor Leste.
São assim todos os pactos, na sua imensa maioria: ninguém os controla, ninguém os prevê e ninguém os acompanha. Mas nem todos os pactos dão a ver tão claramente a sua própria natureza.
É assim também com os livros.
Abrem-se e fecham-se ao menos óbvi,o ao mesmo tempo que convidam ao versosímil. Por isso mesmo, não há livro que avance para uma finalidade prescrita. Não há livro que pactue com quem o queira adivinhar de forma monocórdica, paulatina e previsível. Nem mesmo a Rosinha do Adro.
Nem mesmo o Big Brother, se fosse livro.
Nem mesmo o processo da Casa pia, quando vier a ser livro. Ou livros.
Não é assim Marta ? (Desculpem requerer, neste epílogo de post, um destinário singular. Mas combinação é combinação...)