O blogue priobido
Todos falam nele. O Abrupto, o Dicionário do Diabo, o Aviz e o Prazer Inculto. Só para citar quatro onde passei há minutos. Todos falam nele, no terrível blogue. No mal. Estou de acordo: há famílias e ciclos de vírus que vêm por mal e há também blogues que vieram por mal. Há uma escatologia blogosférica, sem rosto, sem mosto, ameaçadora. Dantes, os monstros representavam essas coisas, hoje é o silêncio forçado, o silêncio às vezes tão pouco sepulcral. Porque em todos, em todos sem excepção, existe uma subliminar tentação de o prenunciar, de o pronunciar, de o citar. De com ele conviver, ainda que separados por uma cortina suspensa de uma janela sem fim e em fogo. Faz lembrar o Murnau, naquele seu inocente Fausto, e onde aparece um monstro muito pio e inocente, muito velhinho e reluzente a ver voar morcegões muito escuros de asas a lembrar barbatanas. Um monstro de papel à Mao, um monstro do futebol à Garrincha. Uma coisa do arco da velha, do outro lado do parapeito, na outra margem do lago. Uma figura esbelta e terrível. Uma língua de fogo. Todos a vêem, todas a contam, todos a narram, todos a sonham.
Mas ninguém a vê.
Ninguém a diz.
Ninguém.
Eu também não.