quinta-feira, 25 de setembro de 2003

Literaturas e figuras - 2

Dantes, ao longo do tempo francamente moderno e teleológico, uma moda era uma prática alinhada, estilística e valorativamente, que se digladiava numa arena em que as causas últimas da vida estavam sempre, e muitas vezes rigidamente, em causa. E a própria literatura, mergulhada que estava nesses limbos catalogados através de diversíssimos sufixos em “ismo”, lá ia, alegre e contente, rumo às grandes certezas epicizantes de si próprias. Para um neorealista ou para um surrealista, para o seu público e para o seu leitor, estava sempre tudo bem, desde que no de dentro do seu esquema reprodutor e reconhecível de mónadas. O que não quer dizer que o apelo mais genuíno do literário se não atravessasse, aqui e ali, nesta práxis dominante.
No entanto, quando, a partir dos anos oitenta, o auditório se pluraliza e esta luta, diga-se alegórica, entre o bem e o mal se esvai; quando, a partir dos anos oitenta, as modas geram subitamente modos descentrados e desalinhados, podia parecer que a tendência para ofuscar e subsumir o literário, bem como para libertar a sua ficcionalidade, estaria a atingir o fim. Falsas profecias estas, já que o auditório do literário rapidamente se transformou em nicho - pluralizado, aberto e plural, é certo - de um novo self-service das imagens globais que passou, esse sim, a preencher, entre outros, o ser que a literatura figurara e representara ao longo de mais século e meio.