quinta-feira, 31 de março de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
VIGÉSIMO SÉTIMO EPISÓDIO
(A decisão de Edmundo)

Edmundo sobe ao Chiado e traz consigo uma fixação desordenada, uma memória sem eco, um desalinho sem fim.
Nada lhe corre bem na vida.
Nem os negócios, nem as amizades, nem o habitual humor que parece ter trocado a ligeireza do dia a dia pela imagem de uma espera sem fim. Mas espera do quê, pelo quê?
Edmundo alarga o nó da gravata, revê a sua silhueta nas montras e permanece indiferente ao cheiro do chocolate quente que escala pelas montras da pequena leitaria.
Lisboa, neste dia de Janeiro, parece uma cidade admirada com os seus próprios temores e fascínios.
Sem saber bem o que fazer, Edmundo acaba por sentar-se numa mesa do canto da leitaria e toma subitamente uma decisão.

E lembra-se de Veneza como se existisse uma luz ao fundo do túnel nessa memória funérea. Lembra-se daquelas ilhas de cristal e ogivas, miríade de pedra e proporção.
Lembra-se das gôndolas, desses berços que ondulam com suavidade lunar.
Lembra-se da água horizontal a espelhar a maior angústia da vida.
Lembra-se da respiração do desencontro, da tragédia a sós, desse momento único em que Edmundo admitiu que tudo tinha acabado com Albe.

Uma tragédia é sempre uma história pessoal, é verdade.
E agora?
Depois da pulsão de morte veneziana, a decisão estava tomada.

Irremediavelmente.

(No próximo episódio, Albe, no seu apartamento parisiense, acaba também por tomar uma decisão)

Continua