terça-feira, 7 de agosto de 2007

Bancos e espectáculo

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Teria sentido abrir aqui na blogosfera uma ampla tribuna aos clientes (nós todos) dos bancos que operam em Portugal. Numa altura em que a encenação do outro lado do palco - administadores, accionistas, etc. - torna visível um paradoxal PREC (é esse o aparato mediático que conduz a tomadas de posição imaginárias), os clientes continuam a mendigar nos balcões ao sabor de (nem sempre pequenas) prepotências, intolerâncias e mal-entendidos. A minha própria história - e estou a pagar apenas um único empréstimo - já dava um livro. Quem sabe, um dia, se não dará mesmo.
Em termos mais gerais, a história não se fica pelo respeito às pequenas letras da lei, nem pela sedução diária no espaço público e muito menos pela incontida redenção do consumo. A história é invariavelmente um misto de falsidade e ilusão com (muitas) incompetências e pequenos poderes ao fundo. A história é, no seu desenlace, quase sempre, a de um relato anónimo e solitário que traduz a impotência do cliente.
O mercado deve ser encarado como uma coisa séria e, como tal, deve ser defendido. Parece-me óbvio que o mercado deverá sempre ter como base um equilíbrio de posições, de direitos e deveres repartidos e ainda uma ética recíproca de cumprimentos. Mas há muita gente no sistema bancário com mentalidade corporativa, tacanha e burocrática que não olha a meios para abusar da sua posição negocial. Daí que o cenário real seja bem mais unívoco. Para agravar esta situação de desnivelamento, a justiça é sempre demasiado cara para o cliente.
Para obviar a tais desproporções, creio que um provedor (dos direitos) dos clientes dos bancos não teria grande sentido; seria, ao fim e ao cabo, mais uma formalidade da actual tentação reguladora. Já a exposição pública de posições e o relato de simples histórias poderiam tornar-se mais eficazes (o recente exemplo das denúncias das juntas médicas na educação comprova-o). Fica o desafio. Um desafio que se adequa à natureza da blogosfera. Seja como for, reatarei o tema no início de Setembro. Toca-nos a todos: muito mais do que as imagens da Alfândega do Porto.