sexta-feira, 13 de julho de 2007

Quarto aniversário do Miniscente - 4

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Ao ler-se um texto de natureza confessional, como é este, vai pensar-se que o meu balanço de blogger é negativo. E sê-lo-á em parte. É até difícil imaginar o que eu teria feito, ao longo destes 48 meses, se não me tivesse devotado à actividade que o Miniscente mobiliza. Nem tenho a certeza se o Miniscente corresponde ao perfil de blogue que eu mais teria desejado fazer (o mesmo se aplica a outros blogues mais modestos por mim criados, o Minitempo ou o Minion). Nada é perfeito, já se vê. Grande parte da nossa vida é uma resposta ao curso irregular com que o inaudito nos acena, mas é também a partilha de uma terra de ninguém dominada pelo imponderável. Planear é querer domar o monstro que se esconde nos solavancos mais ínvios do tempo. É por isso que os blogues acabam por ser atractivos: justamente, porque não se arrogam a esse tipo de feitos deístas ou salvadores; daí que vivam às mil maravilhas ao lado de todo o tipo de imprevisto, de espanto, de ordinary life e do mais puro nexo circunstancial.
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No meu caso, o lado positivo da blogosfera passa por este tipo de convivência tão nova quanto incerta. Isto é: saber conviver com a pulsação turbulenta do mundo, numa errância encapelada que quase se apaga no momento em que surge; no reverso do dever (pesado) e das narrativas tradicionais em que o fundamental passou a ser como o olhar que nasce e morre ao mesmo tempo, por simples paixão pelo imediato, pelo instantâneo, ou pelo fiat deslumbrado e sem precedentes com que na rede se passou a perceber – e a iludir – o ‘Outro’. O “fingimento”, tal como foi caracterizado quando a poesia e a literatura ainda eram um Olimpo social, é hoje o alicerce sobre o qual o blogger cava (não digo constrói) a sua palavra fugidia. Entrámos, de vez, na idade do cavador de pérolas. O meu primo e tenor, Tomás Aquino Carmelo Alcaide, teria sorrido com grande desdém. Eu – pelo meu lado – gosto, mas sem a limpidez de outros gostos que já me marcaram a vida. O Vergílio Ferreira teria gozado. Como só ele sabia fazer. Quando não estava a escrever.
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(continua)
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Este texto é publicado em cinco partes, entre o dia 11 de Julho e o dia do quarto aniversário do Miniscente (15 de Julho).