sábado, 14 de julho de 2007

Escavações Contemporâneas - 39


LC
e
O sorriso do arquivo no tempo da rede
(hoje: António Quadros - António M. Ferro, Org.)
e~
O Homem Português (1983*)
e
O português quer viver, crescer e de um modo geral ser, mas afeiçoou-se a convicções negativistas, nomeadamente ao nível político e educativo, que o conduzem a um auto-envenenamento mental. É porque não acreditamos em nós próprios, no que somos e valemos, no nosso pensamento e na nossa cultura, que em vez de pensarmos a partir daí a renovação das nossas leis, das nossas instituições ou dos nossos sistemas, constantemente, em sucessivos remendos, nos limitamos a importar, a repetir, a copiar ou a adaptar, ao mesmo tempo que nos autocriticamos sem medida e nos negamos. Disse-o de uma forma lapidar Fernando Pessoa, num pequeno texto que por várias vezes tenho citado: «uma nação que habitualmente pense mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si que anteformou. Envenena-se mentalmente.» Daí que, acrescentou, « o primeiro passo para uma regeneração, económica ou outra, de Portugal, é criarmos um estado de espírito de confiança – mais, de certeza, nessa regeneração.» Vivemos hoje um período de menoridade e de adolescência regressiva em que, predominando o intelecto passivo, as pessoas se auto-satisfazem e auto-iludem como os lugares-comuns ideológicos, com os discursos demagógicos e com as ideias convencionais de gerações que, para repudiarem um certo tipo histórico de nacionalismo, perderam a própria identidade e já não sabem quem são ou para que são, os portugueses. (…) devido ao cientismo e ao tecnicismos predominantes que o positivismo nos trouxe, sem o acompanhamento de uma educação do intelecto para o desenvolvimento das faculdades superiores do homem, o nosso ensino público dirige-se à mentalidade pueril, não logrando a elevação do intelecto passivo e adolescente até ao intelecto activo e adulto, o que explica a facilidade com que o estudante cai nas mais quiméricas, utópicas ou demagógicas ideologias, com pouca ou nenhuma capacidade de eleição ou de análise.(…).
e
*Conferência proferida em 13 de Dezembro de 1983 subordinada ao tema geral “Que Cultura em Portugal no próximos 25 anos?”
e
Segundas - João Pereira Coutinho
Terças - Fernando Ilharco
Quartas - Viriato Soromenho Marques
Sextas - Paulo Tunhas
Sábados – António Quadros (António M. Ferro, Org.)