quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Ainda a Web 2.0

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Sou leitor do French Kissin' e gosto sinceramente dos textos cirúrgicos do João. Penitencio-me, por isso mesmo, por ter deixado passar em claro um post do João que visava uma anterior reflexão minha. A indiferença é a pior coisa que existe e a única desculpa que encontro para o meu alheamento deve-se ao caso Rute Monteiro (a antecipação ficcional do meu romance iniciou-se, de facto, um dia antes do post do João ter sido publicado). As minhas desculpas.
Quanto aos factos: o pretexto foi um debate na RTP2 e a minha crítica, ou a minha advertência, era a de que qualquer reflexão acerca da blogosfera deveria ser feita sem que nela inevitavelmente se projectasse o mundo dos media tradicionais. Por outras palavras: a comunicabilidade suscitada pelos blogues é de natureza diferente da que foi codificada pelos media em mais de dois séculos de vida. Por isso, concluindo, o meu ponto de honra era: não se analise (pelo menos ostensivamente) o xadrez com as regras do jogo de damas e vice-versa. Para além deste ponto (que tem merecido desenvolvimento e insistência em textos meus), constatava ainda no meu post que existe um certo mal estar entre alguns jornalistas (e não só) que, geralmente distanciando-se do mundo dos blogues, o pressentem como um incómodo que pauta pela mediocridade expressiva.
O meu erro foi não ter associado o blogger do French Kissin' ao João Morgado Fernandes que debatia na televisão (muitas vezes... ando na lua). Se o tivesse feito, é claro que a minha advertência se teria mantido incólume - é um dado que continuarei a reflectir -, mas a segunda parte, relativa aos que desconfiam com preconceito e má fé da blogosfera, jamais podia ter sido endereçada ao João. Errei, portanto, neste particular.
Agora, caro João: durante muitos anos estudei literatura profética e até fiz dessas espantosas relações entre o devir, as metáforas da salvação e a nossa relação com o tempo uma tese. E sei perfeitamente que o "messianismo" não se compadece com uma atitude reflexiva sempre inacabada e sujeita a permanentes interrogações. Há-de concordar que, nos meus livros (ensaios) e textos, é esse o tom que tenho emprestado (ou que faço por emprestar) às análises que desenvolvo. Daí que a "roda", mais do que uma invenção, seja, hoje em dia, sobretudo um processo. Quanto ao "que andam a fazer os escritores nos blogues" (a oportunidade da sugestão dá que pensar!) parece-me, mais do que uma "deselegância", um óptimo ponto de partida para uma nova série de interrogações que não deixarei em mãos alheias. Agradeço a ideia, João, e creio que vou agendá-la para muito breve.