quarta-feira, 25 de maio de 2005

O OLHO DO JAVALI
Folhetim em doze episódios
OITAVO EPISÓDIO
(Ainda o mistério do carro)

- Quanto às chaves, o que ele me disse é que só já tinha umas, o que também pode acontecer. Aliás, isso já me tinha acontecido uma vez. E mais... sugeriu-me que fosse à marca encomendar duas chaves novas... que ele até as pagaria. Mas isso também é coisa que demora algum tempo, informei-me por telefone, sabe, razão por que ainda nem me tinha posto a tratar disso. Como vê, por exclusão de partes, a chave supostamente perdida é precisamente a que ele lhe passou para as mãos.
- Mas por que teria ele feito isto ?
- Tenho um palpite.
- Qual ?
- Veja bem, se ele a conseguiu afastar do laboratório, se lhe retirou todo o poder que tinha sempre tido, se a chegou a ameaçar e até a pôs a trabalhar na prateleira, é normal que...
- O quê ?
- Que quisesse ir um pouco mais longe.
- Está a sugerir-me que ele queria...
- Sim, que ele queria ver-se livre de si... e, portanto, arranjar-lhe, para já, umas complicações. Isto é... perturbá-la, cercá-la, sei lá. Uma coisa dessas. Isto não foi distracção dele. Disso pode ter a certeza. É a intuição que mo diz.
- De facto, hoje, nem devia ter sido eu a levar as amostras de sangue. Não era o meu dia. E é raro não haver um carro do serviço à disposição. Por que me terá ele dado este carro, porquê ?
- Não há fumo sem fogo, diz a sabedoria popular.
- O que é que quer dizer com isso ?
- Que há aqui qualquer coisa que está ainda a falhar na engrenagem. Quer que volte a guiar ? É que se está a fazer noite. E começa mesmo a ver-se mal...
- Às oito paramos e, depois, logo se vê. Já falta pouco. Vou ver se ainda chego ao alto do mirante proibido.
- De acordo. De acordo.

Próximo Episódio: “Na hora em que o mistério aclarou a sua própria dúvida e a luz se fez. Na hora em que a compreensão se resumiu a umas quantas opções subitamente disponíveis e evidentes.