sexta-feira, 13 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata - 21


(Gloria Swanson, Nickolas Muray, 1922)

Podia ser a Judite que Almada Negreiros iria inventar em Nome de Guerra, apenas três anos depois desta fotografia. Mas não é, e em primeiro lugar, porque não se sabe se Gloria Swanson olha para DeMille, para o clã dos Kennedy, ou para a sua Sunset Boulevard onde se imagina que continue ainda a gritar: "Have they forgotten what a star looks like?”. Para Almada, Judite é uma pobre desaparecida, uma vítima da Lisboa dos clubes nocturnos dos anos vinte. Para Muray, esta Gloria é sobretudo cativação, fantasia intemporal ou assombro da carne. Tudo o resto não passa de um leque sevilhano que se abre para cobrir a falsa inocência dos sentidos. O império da pose iniciou-se em Disderi e atingiu aqui o auge que era próprio das estrelas. Apenas isso.