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domingo, 22 de julho de 2007

Pré-publicações - 46

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Maria de Fátima Sousa e Silva, Ensaios sobre Aristófanes, Livros Cotovia, Lisboa, 2007 (Julho).
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Pré-publicação:
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"Aristófanes foi, sem dúvida, um dos nomes mais sonantes da época gloriosa da comédia grega antiga – o séc. V a.C. ateniense. Dotado de qualidades de excelência, e de uma acuidade atenta sobre o mundo que o cercava, tornou-se um testemunho precioso de uma Atenas que somava, dia a dia, as suas maiores conquistas: a estruturação de um modelo democrático de vida social, a supremacia de uma cidade que se desejava cabeça de um império, o seu estabelecimento como sede de um espírito novo, onde intelectuais e artistas encontravam terreno propício ao engenho e à criação. Não sem que, por trás do brilho do sucesso, as nuvens negras do declínio se fossem adensando, à medida que a guerra e a corrupção se infiltravam, como vírus destruidores, num sonho de progresso que a muitos animara.
Mais do que testemunho de uma experiência histórica, Aristófanes foi também o homem de teatro completo; alguém que começou na senda de uma tradição que vinha de há muito, seguindo modelos de antecessores que pisaram, galardoados pelo aplauso da cidade, a cena de Dioniso. Com o tempo – curto para tanto talento e determinação – , o poeta emancipou-se; enveredou então por uma linha de crescente independência artística e por um projecto de reforma e valorização da comédia. À criação, foi acrescentando a teorização, fazendo do teatro um estímulo permanente à reflexão e à prática.
Como todos os que sabem pôr a vitalidade criativa que possuem ao serviço de uma causa e, por ela, correr riscos, o poeta de Egina recebeu, do público a que se dirigia, aplausos e apupos – de ambos é feita a contingência humana. Acolhido com simpatia, como uma novidade promissora, sofreu com Nuvens, a peça da reforma e da ousadia, a decepção de um terceiro prémio. Nada de mais penoso para o jovem Aristófanes, quando dava o passo – na sua opinião decisivo – em direcção à maturidade artística. Da recusa do público, sempre recordada com amargura, Aristófanes tirou, porém, uma lição construtiva: a de que um auditório se educa pouco a pouco, se vicia, com passos curtos, na qualidade, para desabrochar, por obra dos verdadeiros génios, na excelência de um juízo crítico esclarecido. Aplicada a fórmula, a partir de agora com mais prudência, o caminho que se seguiu, na festa teatral, foi de sucesso, coroado com o prémio estrondoso de Rãs, na plenitude da idade e da profissão.
Sobreveio a decadência, em consonância com a derrocada de uma Atenas que, também ela, depois de anos de ascendente e de pujança, vivia a crise sofrida do pós-guerra. Ao desencanto e cepticismo que a derrota foi instalando, postos em causa os alicerces em que assentou o brilho do século que terminava, correspondeu, no mundo do teatro, igual declínio. Sem resistências, a tragédia cedia, após a morte das suas duas últimas glórias, Sófocles e Eurípides. E a comédia, se resistia ainda, refugiava-se na mudança, de que Aristófanes continua a ser, para nós modernos, o testemunho fidedigno. Mas apesar do esforço, o poeta sentiu que os tempos eram outros, que esmorecia a energia do passado, e rendeu-se, com um lamento tristonho, a outros gostos que agora campeavam."
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Actualização das editoras que integram o projecto de pré-publicações do Miniscente: A Esfera das Letras, Antígona, Ariadne, Bizâncio, Campo das Letras, Colibri, Cotovia, Gradiva, Guerra e Paz, Livro do Dia, Magna Editora, Magnólia, Mareantes, Publicações Europa-América, Quasi, Presença, Sextante Editora e Vercial.