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sábado, 21 de julho de 2007

Estilo Império (act.)

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Há dias em que apetece dissolver tudo o que já foi, como acontece àquelas aspirinas que desaparecem na água em menos de dez segundos. Bem sei que, ao longo dos anos, nos vamos transformando em novas pessoas. É verdade. Lembro-me, há quarenta anos, de passar as férias grandes na Praia da Rocha (o meu pai, à noite, estacionava o carro junto à fortaleza com desmedida facilidade). Lembro-me, há trinta anos, de concluir o meu primeiro ano lectivo como professor e de ter tentado, pela primeira e última vez, a bizarra arte do campismo. Lembro-me, há vinte anos, de andar a escrever o meu terceiro romance na Palmstraat sob imensa compulsão estival, lusitana e casamenteira. Lembro-me, há dez anos, de ter passado um Agosto ateniense com tal guião que teria dado um grande romance, se eu tivesse um décimo do génio de Lawrence Durrell. Lembro-me, hoje de manhã, de ter colocado na máquina de fazer sumos a Praia da Rocha de 1967, a tenda de campismo comprada em Badajoz em 1977, as folhas escritas na Brother em 1987 (do que viria a ser o No Princípio era Veneza) e ainda as varandas noctívagas que, em 1997, acenaram aos deuses gregos de Vouliagmeni. Resultado: uma aspirina dissolvida. Em pó. Dando ao presente - a este momento concreto - o estatuto de império. Como se apenas hoje existisse. Como se aquilo que mais me apetecesse fosse o que afinal acontece. Agora e aqui. Tão-só isso. Como eu percebo o Duchamp!
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P.S. - A versão original e completa deste texto será publicada no próximo dia 26, no Expresso Online. Após 40 crónicas de "Blogues e Meteoros", a série passará agora a designar-se "Episódios e Meteoros". Entretanto, pode ler aqui a última crónica da anterior série, publicada na passada quinta-feira, acerca do blogue do escritor Carlos Vaz.