By By, génio!
A esteticização generalizada do mundo, ou seja, o modo extremo como a arte se propagou no quotidiano (publicidade, design e ciberdesign, arquitectura, moda, genéricos televisivos, todo o tipo de objectos culturais, etc.), é um dos aspectos mais interesantes da vida dos últimas duas décadas. E foi por causa dessa brusca e quase inapecebida inovação que a noção de génio - que vinha de Kant - se foi diluindo e ridicularizando naquilo que é hoje a voz mediana e hipermassificada do bardo que nos rege a construção de mundos. Vejamos o que era o génio em Kant e pensemos três vezes:
“(o Génio) é um talento para produzir aquilo para o qual não se pode fornecer nenhuma regra determinada, e não uma disposição de habilidade para o que possa ser apreendido segundo qualquer regra; consequentemente que a originalidade tem que ser a sua primeira propriedade (...)” – “2) os seus produtos têm que ser ao mesmo tempo modelos, isto é exemplares; por conseguinte eles próprios não surgiram por imitação e, têm que servir a outros como padrão de medida ou regra de julgamento; 3) que ele próprio não pode descrever ou indicar cientificamente como realiza o seu produto, mas que, como natureza, fornece a regra; e por isso o próprio autor de um produto, que ele deve ao seu génio, não sabe como para isso as ideias se encontram nele e tão pouco tem em seu poder imaginá-las arbitrária ou planeadamente e comunicá-las a outros em tais prescrições, que as põem em condição de produzir produtos homogéneos.” (C.F.J.,182;1787,1998,p.212)
Ou seja, génio é aqui entendido como uma mediação especial e superior da natureza que cria modalidades exemplares e sobretudo originais. Mitos que os últimos dois séculos foram desfazendo. Hoje cada vez menos se crê em antinomias tais como natural/articicial ou ficção /realidade. Hoje sabe-se que a paródia e todo o tipo de procedimentos intertextuais conferem à exemplaridade e à originalidade um lugar arqueológico. Hoje descrê-se de toda a agregação ou construção. A regra passou a ser a conformação com um descrer que apenas é desdito, dia a dia, diante da simulação das imagens com que fazemos os nossos mundos.