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terça-feira, 2 de março de 2004

Os perversos torcedores de causas

Uma imagem aparece na mente, não porque alguém o determina ou exige, mas porque ela mesma - a imagem - o decide, ao aparecer (e, como se sabe, uma imagem é sempre a selecção de uma selecção operada entre os vários níveis da consciência: o proto-si, a consciência nuclear e a alargada). Certas mentes, porém, excessivamente rígidas e crispadamente sabedoras, ainda entendem que o único modo de funcionarem é o controlado e o pseudo-voluntário como se receassem que a inteligência se pudesse entregar aos seus próprois caminhos e caprichos. Eis como o entendimento mais cabal da liberdade acaba afinal por pertencer aos crentes na “memória involuntária” (a expressão é de Walter Benjamin). Há muitos teóricos da liberdade - e, entre eles, muitos arautos actuais do mais puro liberalismo - que se inserem, a meu ver, e ainda que não o saibam, na horda das mentes rígidas e, portanto, no campo dos verdadeiros adversários potenciais da liberdade. Contradições interessantes.