terça-feira, 14 de junho de 2011

Conteúdos - cânone - 8 (criação artística)

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Quando faço arte ou comunico algo relacionado com a criação artística, faço/comunico o que tenho a fazer/ a comunicar. Mas, ao mesmo tempo, sigo o que o guião do conteúdo “criação artística” me diz sobre uma certa exclusividade em aceder ao inexplicável através de formas tangíveis e imagináveis.
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A imaginação foi um dos alicerces da modernidade (de Hume a Kant, a ideia evoluiu meteoricamente). A imaginação passou a ser sobretudo um dispositivo de produção ficcional que visa, a partir da tabula rasa (Damásio refere-se à mente como “contadora de histórias”), a possibilidade de tornar real dados sondados pelo sujeito. É este o alicerce do artista – que tem acesso a visões de completude ou de totalidade – sonhado pelos românticos alemães, sobretudo pelo chamado Círculo de Jena. No entanto, a estética no seu devir idealista, só se enuncia, pela primeira vez, ao longo de setecentos, porque antes haviam sido criadas condições para tal. A intemporalidade mitológica deu lugar à transcendência e esta deu lugar ao sujeito moderno criador e questionador. Entre as duas últimas etapas, o gnosticismo foi uma corrente de várias proveniências mas com duas características essenciais: uma dimensão salvífica e a aceitação da gnose como conhecimento dos mistérios reservados a uma elite. Foi sobre esta disposição superadora e de busca do inexplicável que, milénio e meio depois, foi possível teorizar e crer na arte e na estética, tal como as entendemos ainda hoje. Por outro lado, a pressuposição dos sentidos e da imaginação como vias ligadas a faculdades superiores do homem completaram o quadro e legitimaram as funções da arte e da estética no mundo moderno, elevando a dimensão criativa de todo o sujeito e atribuindo-lhe sobretudo o crédito de uma espécie de gnose exclusiva, superior e irrespondível (de que o “génio” de Kant foi apenas o prenúncio).