sexta-feira, 17 de junho de 2011

Conteúdos - cânone - 14 (sms)

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Quando envio um/uma sms, exprimo e faço o que tenho a exprimir e a fazer. Mas, ao mesmo tempo, sigo o que o guião do conteúdo “sms” me diz sobre a redescoberta da palavra como desmontagem e elipse ao serviço de uma transfusão da linguagem.
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Um/uma sms molda a linguagem para caber em qualquer lado (ou em qualquer género). Já um toque é apenas a interrupção simples de um tempo em princípio plano. Um toque tenta criar fronteiras entre o antes e o logo que o sucede. Como se um dedo apenas fizesse criações descontinuadas. A interpelação, por seu lado, já é um esboço de narrativa, mas o toque ainda não: simples aceno. O/a sms é também uma espécie de toque, mas com alguma ressonância e amplitude. Mera flutuação que se distende ao longo de vários caracteres, como se um desejo de narrar fosse evocado mas logo fugisse e não passasse de uma sugestão à procura de encantamento. O/a sms dilata o vórtice do toque, dá-lhe águas, esquece fronteiras e acaba por inscrever um desejo como breve traço ao longo do tempo. Se o toque interrompe, o/a sms esvazia o balão da palavra: é essa a sua duração. É esse esvaziar que, ao preencher uns tantos segundos de leitura, acaba por dar perfil e espessura ao/à sms. Moldar a linguagem é fazer do vaivém entre ar e balão um sentido que nunca se esgota. Um sentido sempre em aberto: palavras de fractura, pontos insinuantes, consoantes nuas, parêntesis com rosto, vírgulas risonhas e sufixos com perfil de puras elipses.