terça-feira, 16 de março de 2010

Mafra pós-Saramago

Foi em Mafra, no início dos anos oitenta, que Saramago levantou voo. E fê-lo à imagem de uma personagem que ele próprio criou nesse romance/memorial que acabou por posicionar o convento local como peça do nosso imaginário e não apenas como exemplo do barroco lusitano (próprio para receber Putin).

No passado fim-de-semana, nem Putin, nem Saramago, nem a sua diva voadora por lá se encontraram. Mas podiam ter ungido com as suas bênçãos o último remoque de Santana Lopes. De facto, quem não se sente não é filho de boa gente e Santana, ainda a tentar libertar-se do despedimento do primeiro de Dezembro de 2004, não podia deixar de fazer o que fez: como foi atacadíssimo pelos seus pares estando em S. Bento, jamais idêntico precipício se poderia vir a repetir.

Daí que, apesar das opiniões veementemente contrárias dos três actuais candidatos à liderança (foi o que expressaram às televisões após a conclusão do conclave), a reunião de Mafra tenha aprovado a inacreditável resolução da "rolha".

Ninguém poderá proclamar em vão o santo nome do PSD e do seu líder máximo 60 dias antes do voto. Agora imagine-se que o impropério acontece no sexagésimo primeiro dia? A questão e o debate possível em torno dela fazem lembrar o referendo do aborto (é "crime" ao fim de que... semana?).

Numerar os dias e as semanas para incendiar os ânimos e lançar coimas como se lançam dardos é sinal de delírio. No mínimo! Mesmo sem jogadores chineses na formação, Mafra cumpriu (copiosamente) esse fulgor único. Assinale-se a proeza.

(hoje no Expresso)