sábado, 15 de novembro de 2008

Pêndulo

Agarro-me ao pêndulo da Rita Botelho e respiro fundo. O oceano como uma mesa sem fim. A aguarela, por cima, como escalada entre o tampo, o pó e a visão. Sonhei um dia com um fio-de-prumo que terminava num aro a girar sobre si mesmo. Uma bailarina de baquelite com olhos densos, azulados, espumosos. A boneca que está ainda sentada na montra da Palmdwarsstraat. O tricot em vez do oceano e a mesa sem fim em vez do pêndulo. Luzes azuladas, néon, passos apressados, perguntas. Continuo agarrado à trave do carrossel e a vida escoa como o pó ou como aquela visão com que sonhei um dia, era Inverno, e as gabardinas de cor viva (amarelas e vermelhas sobretudo) deslizavam sobre o gelo do canal cheio de príncipes perfeitos. Uma boneca engalanada e de pernas muito abertas. O tricot em vez da liquidez. O desejo como uma respiração profunda. O aro espelhado e a força da gravidade. A rosa feita de pano. As perguntas. O eco. A desesperança. É sábado e ainda bem que assim é.