terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A solitária cor da tragédia

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A tragédia, quando chega, é secreta, pessoal e intransmissível. No dia seguinte, descortina-se, aqui e ali, em apagado recanto noticioso, uma nota sobre um acidente, sobre um problema de trânsito resolvido a horas ou sobre uma "alegada" colisão ao quilómetro número qualquer coisa. E volta a falar-se, de novo, de Suharto, de Gaza e do Subprime. Mas a tragédia mora noutro lado. Alguém há-de desligar a máquina no hospital. Os últimos vestígios de uma vida são, pois, mera resposta mecânica, simples névoa sem sentido, meros alardes sob a forma de linhas binárias, tecnologicamente impressas em tempo real. É o crash sem redenção na sua mais inexplicável pessoalidade. É verdade: quando chega, a tragédia não é já parte da história (ou da "História" para os engenheiros sociais e salvadores). Porque a tragédia, quando chega, é pessoal, secreta e sempre intransmissível.