domingo, 6 de janeiro de 2008

A sobremesa de Luís Pacheco

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Conheci-o mal, mas lembro-me bem dele. Para as pessoas com a minha idade, o Luís Pacheco foi sempre parte da ementa. Nem que fosse de um detalhe da sobremesa tão lascivo e selvagem quanto iluminado. Era preciso ter conhecido a gastronomia da época de Luís Pacheco para o entender em pleno. Mas isso pouco interessa, até porque essa época correspondia, em alguns aspectos, a um mundo radicalmente às avessas da liofilização fascistóide de hoje. A “História” como narração linear é sempre uma aberração. Não apenas a “História”, mas todos os caracóis que se arrastam nos muros, todos os arcanjos da higiene literária e todos as flanelas onde escorre um fiozinho de leite com "Z". Para além do desejo à solta, o mais intemporal em Luís Pacheco terá sido o uso da língua. No fundo, é esse tipo de solaridade que fará dele um mestre para todas as conveniências do nosso tempo. Mas isso é conversa para editores de páginas culturais. Salvo seja. De qualquer modo, o Miniscente não gosta de cultura (cultura?). Pelo menos, hoje. Dia em que Luís Pacheco nos fez a todos o maior dos manguitos. Vaya Con Dios, como dizem os belgas.