quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Cerveja e literatura - 44

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Num ambiente de recepção, a sagacidade dos bastidores e a diversidade dos convivas podem acabar por convocar um colorido realmente singular. Augusto Boal deu voz e figura a um tal quadro nas primeiras páginas do seu romance, "A deliciosa e sangenta aventura latina de Jane Spitfire – espiã e mulher sensual" (1977). Não deixa de ser curioso verificar a presença de cervejeiros ao lado de liberais, como se os primeiros fossem, afinal e no mínimo, uma ´força de concertação social’:
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“Os olhos ávidos de Mr. Cartwright seguiam fascinados os movimentos das ágeis ancas de sua mulher, o baloiçar dos seios. Quando passou por perto, não se conteve e agarrou-a. Quis beijá-la. Quis outra coisa.
– Não querido, hoje não, não agora. Uma vez por mês basta!
– Hoje é dia 23! A última vez foi no dia 22 do mês passado. Recordo-me muito bem..."
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(...)
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"Os convidados começaram a chegar e as comidas ainda não estavam prontas. Janet pediu que fosse recebê-los e entretê-los com salgadinhos, palavras amáveis e whisky.
Veio muita gente: professores, comerciantes, banqueiros, cervejeiros, liberais. Todas as mulheres vestidas de rendinhas e babados, todas com chapeuzinho...”
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(Augusto Boal, A deliciosa e sangenta aventura latina de Jane Spitfire – espiã e mulher sensual, Moraes Editores, Lisboa, 1977, p. 15).