sábado, 27 de janeiro de 2007

Mini-entrevistas/Série II – 110


LC
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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Neste fim-de-semana o convidado é José M. Martins [Masson], economista e professor (http://almocrevedaspetas.blogspot.com).
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
A blogosfera é um dos poucos divertimentos intelectuais, que nos resta, contra o tédio. Palavra com 10 letras, de muita circulação em cafés, alcovas partidárias e oficinas de jornais, é a “máquina desejante” [chez Guattari] pós-moderna que mais aparenta viver. Não sabemos se é da crise de paradigma que nasce o ofício ou se, pelo contrário, é pela blogalização que se vai domesticar a crise. O certo é que esta epidemia do bloganço ainda está pouco vigiada, regulamentada ou admoestada, segundo rezam autorizados comentadores lusos. Assim, mui incivilizada contra o enfado, a blogosfera indígena é daquelas que mais aprontam “o grande espectáculo do desastre, o incêndio, a decomposição” [Tzara] da fazenda pública. Daí que os psiquiatras andem falidos, pois a blogofilia é “ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].
Alguns exegetas (nós, evidentemente) falam da blogosfera como uma sociedade invisível, à maneira de Daniel Innerarity, em que se assume uma nova relação entre espaço e sociedade, com movimentos e produção social própria, de “dimensão silenciosa” e fora do controlo do poder do Estado. Esta movediça desterritorialização, de transgressão global e em rede, marca uma nova discursividade, inscreve a vertigem da dissidência, sendo portanto a transformação mais radical dos nossos dias. E é sinal, pois, de uma “outra globalização”: o investimento do desejo. Basta, por isso.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Todos os acontecimentos, actuais e vindouros, são cavalgados eximiamente pelos blogues. Ao que parece, ao mais pequeno indício de ruído surge um acampamento de nevróticos bloguistas, prontos a abater qualquer novidade, assunto ou conspiração que se ponha a jeito. Este antiquíssimo desporto indígena é, diga-se, uma nobre pedrada no charco, face à domesticação, que por cá reina, nos jornais e TV’s. O bloguista é um verdadeiro blogleur, de sedução infinita. Mas, evidentemente, a abominável invasão do Iraque pelo mundo moderno Bushiano foi fértil em postas. O que permite, no futuro, saber quem (não) apoiou esse espectáculo insano. E por cá, dizemos que se não houvesse blogosfera em português ninguém mais se lembraria desse proletário das letras, o engenhoso João Miranda (Blasfémias). E se não assinássemos alguns blogs académicos, nunca saberíamos que o governo actual era socialista. Daqui se pode observar a intensidade com que acompanhamos a boémia doméstica. Para continuar!
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Suponho que, tirando a frequência da mesa verde (cruzes canhoto!) de bridge ou de um joguinho apetecível de xadrez, nada há a declarar. Vamos cumprindo, conforme podemos e o trabalho permite.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Sabe-se que “é mais difícil ser livre que puxar uma carroça”, porém temos para nós que a nostalgia da critica é sempre autenticamente vivida, o que significa que a blogosfera é tão (menos) livre que outro qualquer meio de comunicação. Mas reconhece-se, sem arremelgar a vista, que há blogs com uma intensa e sábia agenda partidária. O que, se não fosse muito imaginativo e licencioso, seria burlesco. É a vida!
Saúde e fraternidade.
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Entrevistas anteriores (apenas a Série II): Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima, Pedro Fonseca, Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota, João Morgado Fernandes, José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira, Madalena Palma, Carla Quevedo, Pedro Lomba, Luís Miguel Dias, Leonel Vicente, José Manuel Fonseca, Patrícia Gomes da Silva, Carlos do Carmo Carapinha, Ricardo Gross, Maria do Rosário Fardilha, Mostrengo Adamastor, Sérgio Lavos e a Batukada. Agenda para esta semana (de 22/1 a 27/1): Fernando Venâncio, Luís Aguiar-Conraria, Luís M. Jorge, Pitucha, Gabriel Silva e Masson (do Almocreve das Petas).