sábado, 16 de setembro de 2006

Mini-entrevistas - 19

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o Miniscente está a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Francisco Curate, Professor e Investigador em Antropologia.
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- O que é que lhe diz a palavra "blogosfera"?
A palavra “blogosfera” remete-me sempre para o conceito de partilha, sobretudo para uma partilha do que considero, sem qualquer tipo de superioridade moral, de uma personalidade bem pensante, de uma intelectualidade blasé mas crítica; mais do que a partilha de uma moral, ideologias ou valores. Claro que existe também uma tendência para o proselitismo de certas ideias políticas, mas geralmente o sectarismo estriba-se em argumentos fundamentados, o que torna a discussão de ideias muito proveitosa.
- Seguiu algum acontecimento nacional ou internacional através de blogues?
Nos derradeiros três anos tenho seguido as matérias nacionais e internacionais de relevo sobretudo através dos blogues. A informação é tão boa ou melhor que nos jornais portugueses, a qualidade da escrita e da opinião é, nalguns blogues de referência, superior à dos jornais, logo, é natural que aqueles se tenham tornado o manancial que nutre a minha ânsia de informação. Na realidade, julgo que a blogosfera, enquanto espaço de opinião crítica, subjugou a imprensa escrita (e nem falo nas televisões, que exalam tenebrosa podridão informativa) pois, para além de ser uma espécie de “Academia de Alcochete” na formação de novos valores da opinião e da crítica, alcança níveis qualitativos médios que não consigo discernir nos jornais.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Os blogues exerceram, indubitavelmente, um impacto substancial na minha vida pessoal. E nem sequer falo de uma impressão sobre a minha forma de escrever ou de pensar. Falo da constituição de uma rede de afinidades, de amizades, de relações que hoje muito prezo.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Ninguém escreve, julgo eu, para não ser lido. Nessa medida, os autores de blogues poderão coarctar a sua liberdade de opinião quando escrevem de encontro ao que os “ seus leitores” querem. De qualquer forma, devido à inexistência de limites – de espaço ou editoriais – as ideias flúem, cruzam-se e polinizam-se de uma forma livre e impensável até há uns anos atrás. O problema (e eu não partilho esta opinião) é que a liberdade editorial permite a produção e acumulação de muito lixo, mas, até aí as orlas se tornam menos sucintas porque muitas vezes o trabalho que catalogamos como lixo é, algumas vezes, uma forma de experimentação que vai muito além da sua compreensão contemporânea.
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Nos posts de baixo: entrevistas a Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino e António M. Ferro. Amanhã: Ivone Ferreira, docente de Retórica na UBI.