domingo, 16 de abril de 2006

Vou ao Rossio na próxima Quarta-feira (act.)

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Faltam só já 2 dias para que se cumpram 500 anos sobre o Pogrom* (as matanças) de Lisboa. Continuo naturalmente a dar eco à proposta do Nuno Guerreiro (não comento as estranhas polémicas em curso; encontrei-as subitamente ao regressar a Portugal):
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"No dia 19 de Abril, vão à Baixa de Lisboa e no Rossio acendam uma vela simbólica por cada uma das vítimas. Quatro mil velas que iluminem a memória".
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Como já aqui escrevi, um país não se pode mutilar e continuar incólume e em silêncio face a si mesmo. Este blogue tem feito eco desta causa há já mais de dois anos. A 15 de Janeiro de 2004, escrevia-se aqui no Miniscente:
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"Um certo mutismo português adora esquecer os labirintos judaicos de Amesterdão, de Antuérpia, de Istambul ou do Recife que, afinal, lhe saíram da sua própria carne. Por que razão será muda a história oficial portuguesa acerca da implosão judaica de finais de século XV e inícios do século XVI? Independentemente de tal mudez, a verdade é que não há português que não traga consigo um pouco de Israel e, no entanto, parece disfarçá-lo com uma leviana saudade da escuridão, com uma timidez pessoana e quase mitológica, com uma ignorância tétrica e, às vezes, com uma apaixonada tentação pela erradicação memorial (tantas vezes pressionada pelos fluxos ideológicos de conjuntura). É como se, na frente de um Portugal marmóreo e cristalizado, apenas ficasse o mar e as suas lendas a sós, apenas ficasse a imagem passada de um século de ouro, apenas ficasse a euforia das Europálias, das Expos, das Décimas sétimas, das N Capitais da cultura e das várias Exposições do mundo português. É como se, em todas estas cenografias da exaltação lusa, nada sobrasse do vestígio da alma judaica arrancada à nossa própria alma. Que auto-imagem celebrará tal amputação, ou tal compaixão desprovida de rosto?"
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A 30 de Janeiro, também de 2004, voltava-se a escrever aqui no Miniscente:
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"Oxalá, daqui a dois anos, em 2006, o estado português saiba homenagear a parte mais esquecida do seu corpo nacional. Fazê-lo seria, para além de uma questão de justiça, sobretudo uma desafio vital para a nossa própria auto-imagem e orgulho próprio."
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Segundo o Rua da Judiaria, o número de mortos resultantes do Pogrom de Lisboa de 19 Abril de 1506 aponta para cerca de quatro mil pessoas (cripto-judeus/cristãos-novos) chacinadas na sequência de motins anti-judaicos incitados por frades dominicanos. No Rossio, contam Samuel Usque e Damião de Góis, o chão ficou “tapado com montanhas de corpos mutilados”. "Mais de quatro mil almas morreram(...)”, escreveu Samuel Usque em “Consolação às Tribulações de Israel” (1553).
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PS - 1 - A palavra de origem russa Pogrom ("погром") denomina um ataque violento massivo a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). Historicamente, o termo tem sido usado para denominar actos massivos de violência, espontânea ou premeditada, contra Judeus e outras minorias étnicas da Europa".
PS - 2 - O autor de Consolaçam ás tribulaçoens de lsrael , Samuel Usque, confirma que as matanças de Lisboa tiveram lugar em 5266 (calendário hebraico), ou seja, em 1506 da era cristã.