quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Novidades de estio

A praia dá aos portugueses outras vestes e outros vaticínios. Deixam o fato de treino à hipermercado e passam a circular com desnudada verve, voz alta e perfís anafados a rodopiar pontões, assados e orlas de circo onde há sempre a atracção do tigre branco. Junto à areia molhada, a bola gira entre passeantes e cavaleiros tardios que mais tarde ressurgem de mota, ou de jipe de alta cilindrada, e assim fascinam aldeões, cachopas entediadas e roxas, turistas pardos e ainda aquela rapaziada de tatuagem no coxis e híbrida palavração. Ao fim do dia, engarrafam-se as vias e a nova rotina de rotundas e estacionamentos impossíveis dá aos habitáculos das viaturas aquele aspecto de quarentena que escapa à peste como o diabo às chamas florestais (aquelas que a televisão dá a ver, à hora do jantar, como se fossem coisas há muito passadas no centro da Via Láctea). Depois, noite escura e já densa, entre brasas e arrufos de tamboril, vislumbram-se ainda nos ecrãs das esplanadas uns gajos a serem postos fora de casa lá para as bandas do deserto e uns candidatos à presidência entre o silêncio da meteorologia e o bramido das ondas sem novidade. E o mundo pode, deste modo, continuar ileso a temporais, a crises, a catástrofes e a mil meteoritos cintilantes. É a felicidade do verão.