segunda-feira, 13 de junho de 2005

Eugénio de Andrade
r
Luísa Ferreira (I.C.)


O que diz o mistério não se sabe. O que fica no poema é talvez disso um vestígio, seu sinal maior. Que pouse na penumbra do dia este Canto Rouco, escrito pelo poeta hoje falecido:


CANTO ROUCO

Antes que perca a memória

das pedras do adro,

antes do corpo ser

um só e quebrado

ramo sem água,

devolvei-me o canto

rouco

e desamparado

do harmónio na noite.


Mãe,

desamparado na noite.


(Primeira edição: Editora Limiar - Actividades Gráficas, Lda., Porto, Outubro de 1977)