sexta-feira, 24 de junho de 2005

Atracção fatal

Geralmente, à minha volta toda a gente fala do estado do tempo. Geralmente, todos repetem que lá veio, por fim, um pouco de fresquinho. Ficam com os olhos a brilhar com aquele contentamento lunar que sabe a pouco. E eu acho sempre o contrário, mas, ao mesmo tempo, sorrio com (falso) ar condescendente e prefiro não dizer nada. Sinto vontade de me ir embora, de me refugiar no escritório, de contar as páginas ainda em branco do último texto, de ver a água parada a vogar na imperfeita contaminação da memória. Porque eu, sinceramente, prefiro o calor, esse calor mortal de que ninguém gosta, esse calor irrespirável, esse calor da bonomia que, à meia-noite, ou às três da manhã, não deixa dormir nem vegetar vivalma. Sou assim, nasci em Agosto e sinto uma indescritível felicidade com esta dilatação do cosmos.