sábado, 21 de maio de 2005

Crescente poético luso - 2
e
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Gostei muito da reacção à divulgação dos poemas de Ibn Sâra. Ainda que tenha sido difícil até agora publicar estas maravilhas (também não me mexi muito), acho que é chegado o tempo de as retirar da gaveta. É interessante ler os poetas que habitaram o actual território português antes de existir Portugal, embora esta poesia seja retoricamente bastante codificada e não dê, nesse sentido, grande espaço à descrição local. O que pode ser uma virtude, já agora. Aqui vos deixo outro poema do escalabitano Ibn Sâra (m. 1123):

r

Tarde no rio


Contempla este local, onde estamos !
O ar põe a nu a sua face serena
ao cair da tarde,
e leva consigo uma grávida donzela
cuja túnica arrasta a suave aragem,
ao longo de um rio de águas doces,
cristalino como um espelho,
onde o céu se obscurece.

Mu`râda de Ibn Jafâya:

Ó, como é aprazível
o júbilo do vinho na taberna.
A tarde escurece e desenha no rio
um corcel negro
que cativa sob a gualdrapa uma aragem suave.
Quando as estrelas surgem,
flutuando na água,
parece-te que o céu sente despeito
pela terra.
y
(tradução de Teresa Garulo, sendo minha a fixação da versão portuguesa; Proj. Práxis nº2/2. 1/CSH 7750 795)