sexta-feira, 20 de maio de 2005

Crescente poético luso - 1


Há meia dúzia de anos, trabalhei com Jose Mohedano (Barcelona) e Teresa Garulo (Madrid) num projecto de tradução dos poetas Ibn ´Abdún de Évora (1050-1135) e Ibn Sâra de Santarém (m. 1123), respectivamente.
A partir de hoje irei divulgar, aqui no Miniscente, alguns desses poemas ainda infelizmente inéditos entre nós.

As laranjas II (Ibn Sâra de Santarém)

São faíscas nos ramos,
que mais parecem viços
ou faces que afamam as formosas ?
Ramos que flectem ou ternos perfis,
por cujo amor me esforço ?
Mostra seus frutos de laranja
como chuva de lágrimas
que a paixão ardente tinge de vermelho;
gémeas cheias que, se se liquescessem,
seriam como um vinho
e as mãos que o servem braceletes;
botões de corníola em ramos de topázio
que nas mãos do zéfiro
se parecem aos maços do jogo da bola (jogo do polo).
beijamo-las umas e outras vezes
aspiramos o seu aroma,
ou faces e botões de perfume,
huríes cobertas de pulseiras,
que impedem que o amor escute a voz da prudência.