segunda-feira, 28 de março de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
VIGÉSIMO QUARTO EPISÓDIO
(O desconcerto de Albe)

Albe atravessou a cidade durante quase dois dias, de manhã à noite, e não descortinou Edmundo em lado nenhum.
Parou junto a montras e viu-se ingloriamente a segredar rimas antigas.
Caminhou quase sempre alheada à cidade que a seu lado fervilhava, subindo a Calle Pazienza entrando no Campo S. Margherita e, depois, levada pelo andar desconcertado, acabou por embarcar para o Lido.
Que bússola lhe emprestaria o destino? - pensava
O céu ripostava com o silêncio das grandes apoteoses wagnerianas: nuvens intensas, rápidas e a contrastarem com a luminosidade amarelada que ininterruptamente atravessou a chuva miúda e imprevista.
Foi então que um jovem estudante com um violino de baixo do braço espreitou o olhar de Albe.
Um olhar incógnito, intemporal, preso ao grená bacilento das paredes corroídas pela água.
Ao reentrarem no cais junto à Salute, as fachadas surgiram anoitecidas e a sós, como se nada se passasse, mas ambos os nautas se entreolhavam e sorriam com uma candura que parecia congénita, incerta, mas natural. Tão estranha quanto inconfessável.
Veneza, cidade de extraordinários augúrios.

(No próximo episódio, ficar-se-á a saber até onde é que o imponderável teceu o destino veneziano de Albe)

Continua