terça-feira, 1 de março de 2005

Estalo glacial

Pobres de espírito os que pensam que por trás de uma linguagem poética levemente barroca (e até superficialmente afectada) não existe uma espessa e subtil ironia.
Não é tanto por trás, como acontece na cenografia metafísica que oculta o superior teodolito da vida; é sobretudo na própria grelha que faz e desfaz o fole da linguagem que ri à gargalhada, enquanto avança, em várias frentes, numa aparente e dissimulada eminência.
A coisa saussureana e mais tarde todos os estruturalismos e os mecanismos greimassianos estão entre o que mais vilipendio, dada a pobreza que representam (o meu último ensaio, e não , é cristalino quanto a isso), mas uma certa actualidade tão "relativista" e "vitalista" quanto "microrealista" (e nostálgica do nunca vivido), não lhe fica atrás. Não por vontade própria, mas por pobreza de espírito. E inércia.