segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Sábado injusto

É sábado, fim de tarde, tom azulado, solar, um pombo a desenhar o arco levíssimo do céu até pousar na abside quadrangular da igreja. Granito claro e alvenaria puída, suja, áspera, memorial. Volto a olhar para o tampo da mesa onde sou absorvido pelo perímetro irregular do monitor, pixels, ícaros minúsculos, espuma de tempestade errante.
Enfim, seja como for, escrevo no Word porque estou sem internet. Desde Sexta-feira de manhã que, inexplicavelmente, deixei de ter ligação. Sem mais, pum pum, foi assim mesmo como quem diz - Ah! Não queres saber da campanha, então toma!
Um dos dramas dos dias de hoje é conseguir chamar um técnico a casa, mesmo pagando bem. É um deserto de oferta à nossa volta. Parece que este tipo de procura tecnológica não é contemplado no mercado com uma oferta de jeito, mínima, apetrechada, séria. Se se tratasse de uma pizza, a coisa não seria bem assim. Até porque esse choque, já Portugal muito assimilou há muito tempo: é o famoso “choque das massas”, ou da fast food rapidinha a sorrir sem freios da sã obesidade e sempre à boleia das motorizadas de estrompido arreliante. Há dias e há horas, dessas pessoanas, urgentes, pungentes como as que são cantadas no cais da Ode, em que me sabe mesmo bem devorar uma dessas iguarias liofilizadas. É a Ceia depois da Ode, ou não fosse esse o étimo vulgar e plebeu da Odisseia (Charlotte não me batas!). Adoro, de vez em quando, só para arreliar os puristas, um belo hamburger encrostado, um pizza ainda a lembrar a gelo, um croquete estaladiço com um ou outro vestígio de esferovite. Nesse campo, já eu, e já todos nós interiorizámos o choque. Falta o outro, o tecnológico.
Perceberam a falta? Mas esse, dizem os peritos, é um tipo de choque que apenas nos irá abalar daqui a uns dez anos. Receita finlandesa. E até lá, perguntou eu?
Vou ficar aqui à espera de alguma empresa “24 hours a day” que se desloque de helicóptero até ao meu pátio encantado? É isto, afinal, a “wireless” (- Eles falam tanto tanto! - Fiquei a gostar mais do Ricardo, sinceramente, desde que soube que ele pertence à mesma maioria absoluta a que eu, o Pedro Mexia e mais seis milhões E MEIO de bons portugueses pertencem)?