segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Da verdade ao uso

Do Wittgenstein do Tratado Lógico-Filosófico (enviado a Russel em 1920 e publicado em 1921) para o das Investigações Filosóficas (escrito durante 16 anos, tendo ficado pronto em 1949) há uma diferença abissal: o primeiro ainda acreditava numa forma de significação baseada nas condições de verdade, enquanto o segundo já entende a significação como qualquer coisa directamente ligada ao uso da linguagem.
Esta diferença perseguiu o quotidiano em mudança da segunda metade do século XX e ainda hoje nos bate tranquilamente à porta.
O que interessa cada vez mais é, pois, o sentido criado pelo modo como nos olhamos, como nos julgamos, como comunicamos. Muito menos interessará, nesta lógica, o arco-íris de verdades que todos os dias, por esse magma omnipolitano de imagens, se imprime nos nossos olhos.
É por isso que o modo de aparecer da política no espaço público é, hoje em dia, o de uma arte da comunicação e não mais o de uma clara e objectivada proposta de resolução dos problemas.
Seja como for, é cem mil vezes mais importante o agir livre de todos do que qualquer normal palhaçada no uso da linguagem, ou do que o próprio emparedamento da verdade.