quarta-feira, 24 de novembro de 2004

Crónica do dia

Chego a Lisboa num daqueles dias adormecidos, arrastados pelo sol vagaroso, tão sonâmbulos e antigos quanto o olhar demorado do viajante. Há dias como este que não chego a saber se estou de chegada, ou se estou de partida. Prefiro espreitar o brilho dos estuários. Seja como for, hoje, nas aulas, falarei de teo-semiose, darei o exemplo de Santo Agostinho e, mais tarde, daquela transição que se assiste dentro do gótico do século XIII e que, segundo alguns autores, reflecte o contraste entre a visão orgânica que dá realce à espécie (visão tomista) e a visão de Duns Scot que já dá algum realce à individualização (haecceitas). Depois, reuniões, reuniões, reuniões e a espessura quase viciosa de voltar a olhar o brilho dos estuários (escalarei, por certo, o jardim das Janelas Verdes. Encontro lá, sempre que posso, os fantasmas do meu antepenúlitmo romance, O Trevo de Abel).