sábado, 21 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata - 50


(Domingo de manhã em Arcueil, Robert Doisneau, 1945)

Esta é a história do mundo. Foi tudo tão rápido. Nascer e pressentir o imenso calor, crescer e não acreditar no inverosímil; estremecer, remediar, confiar, descrer, repensar, alentar, partir e morrer. O amor terá aparecido como o imenso hiato que percorre ou prenuncia, em silêncio, as vias, os túneis e os jardins das várias histórias comuns. Até que um dia nos encontrámos no grande largo de Arcueil, entre a sombra que acompanha o arqueado da calçada e a luz do sol que aparece impiedosa, imprevisível, mas apolínea. E o que dizemos da dor? Dizemo-la como dizemos a água: transparente, abundante e envolvente. Seja como for, estamos juntos, estamos vivos, a guerra acabou e outra há-de começar. Por enquanto, há tempo para demorar e para saborear. Toda a vida está aqui, nesta genealogia sigilosa e nos frutos que dela incidentalmente se apearam. A fotografia faz parte desta magna intriga. É com ela que o tempo estala e ilude demorar-se e saborear-se para sempre. Não era isso que esperávamos dos deuses?