sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata – 45


(Untitled, Paul Strand, 1915)

Eis o que diz o plátano neste solilóquio em que já não há margens, nem símbolos, nem rumores irrevogáveis. Eis o que se passa, o que às vezes hesita, ou o que realmente oscila, quando o plátano diz, confiado ao tempo, qual o andamento em que flui o ritmo da manhã. Eis, em suma, talvez como revelação, o nome dos mundos que se criam, à medida que o plátano diz a história deste mundo minúsculo, estreito, liliputiano. Eis ainda quem afirma o plátano, quem o diz, quem o pronuncia, quem provavelmente o desconhece: um vulto evasivo, um volume negro, um ponto de capa e espada, sob a forma de marcha, a desbravar, a subverter e a recriar a densidade quase imperceptível do solilóquio matinal. Eis, por fim, o brilho murado, o intramuros desbravado e o suspiro enclaustrado que imortaliza o que jamais se disse, o que nunca se afirmou e o que ninguém pronunciou. Subsiste, no entanto, a forma do passeio: quadrados justapostos, astros repetidos, termos avaliados. Calculados, ponderados. Ou o caos como forma pura e imprevista de sobrevivência.