segunda-feira, 16 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata - 36


(Newsies at Skeeter Branch, St. Louis, Lewis Hine, 1910)

Há itinerários onde a experiência significa apenas aperto e premência. Ouve-se o disparo, a luz ascende ao diáfano das formas e o que ocorria defronte da objectiva logo congela e solidifica: são meros vendedores de jornais a calcorrear cometas, cobradores da felicidade remota, adoradores da premência. Olhamo-los e revemos o modo como se apressam, como recolhem os gestos no seu desconhecido leque de privações, carências ou falhas. Nesta mudez dorida, existe o inevitável impulso de ludibriar a arte do fumo, de querer posar o corpo ou depor o olhar, entediando-o. Neste mutismo quase melindrado, os meninos já são homens. De um momento para o outro. É uma façanha colossal, mas, ao mesmo tempo, é um istmo tão breve e frágil quanto exímio. No reverso deste espectáculo frio, os jornais ainda sobrevivem em nome do anonimato dos mortais. São simples letras em órbita que contracenam com a avidez, com o esquecimento e com o escárnio dos inocentes.