sexta-feira, 14 de maio de 2004

Referências



Durão troca cátedra portuguesa no México por futebol na Alemanha. Não sou dos que se chocam de modo visceral e enervado com a escolha. Era o que mais faltava. Mas a coisa dá para entender a nave em que viajamos. Hoje, o estado é mais permeável e sensível ao colorido ululante e efémero do que à expansão do património cultural português no mundo. Não fico indignado, repito, até porque julgo compreender o que está em causa.
A cultura, o património e outros devires mais ou menos racionais da modernidade já não correspondem ao que sempre foram do final do século XVIII para cá. O futebol e outros fluxos de massa, assentes na simulação de gladiadores, têm-se convertido num negócio magistral e numa aura meio sacralizada que parece cada vez mais subsumir-se àquilo que fez, em tempos, da cultura um substituto da antiga graça divina.
Quando a conversão se alia ao numerário, faz-se luz no Olimpo. Essa é uma lei ancestral.
Durão vai onde vai, questão de referências. E faça muito boa viagem.