quinta-feira, 20 de maio de 2004

Paternalismos

Essa coisa do “Portugal Positivo” feita para os portugueses aumentarem a auto-estima cheira-me a esturro. Patetices para patetas. Idiotice para idiotas. Paternalismos para catervas. Diz-se no site dos “positivos”:

“(…) afectados e porquê?
Se a auto-estima (ou a sua falta) é um inimigo, então é preciso estudá-lo.
Insistir na maledicência, salientar a desgraça, explorar a dúvida, culpar sempre o outro e lançar a suspeita não pode ser o caminho. A lei implacável do mercado apura a crise: em horário nobre, e com deleite masoquista, a comunicação social repete diariamente um estendal de escândalos e misérias. O vício seduz mais do que a virtude, a culpa atrai mais audiências do que a desculpa, o crime é prime time e a inocência pé-de-página.”


Querem localizar a auto-estima e depois o diagnóstico é estilo bode-expiatório. São os média! São os média! Grita o bardo salvador. Mas não entenderão eles que o fenómeno é global e assenta numa lógica ficcional de meta-ocorrências? Salientar a desgraça? Mas não entenderão eles o que é o fado, o Nobre, o Pascoaes e o miserabilismo indígena impregnado nos ossos e nos aceleradores dos carros a leasing? Enfim, esta malta quer transformar o Pessoa tímido de olhos no chão num menino muito crente de si que sorri por rendenção compassiva e por ausência de ironia compulsiva. Eles, plenos de moralidade, querem um país de patetas alegres, muita positivos e cheios de rosinhas do adro para liofilizar o Santo António. Eles, plenos de doutrina, querem a malta a regredir para o Portugal dos Pequeninos. Eles querem que alguém os mande bugiar.