quinta-feira, 15 de abril de 2004

Abril - 3



Uma revolução alimenta-se de rumores, de boatos e do diz-se diz-se que é cúmplice do auto-cumprimento profético, embora sempre articulados com a ameaça, com a praga e com o suspense que tende para a iminência. A revolução é (foi) o estar-aqui-a-acontecer-já. Como se o futuro e o passado se contraíssem num único e esperado acontecimento. A revolução é (foi) o superlativo da corrente ideia de crise. Um ápice que se entendeu a si mesmo como a descontinuidade maior face a todas as narrativas. A revolução é o bramir da intemporalidade. Pura negatividade aliada à necessidade.
Leia-se, pois, A Capital de 6 de Julho de 1975. Tudo aí parece translúcido:

“A onda de boatos despontara com o dia de ontem, mais tímida durante a manhã, mais forte e atrevida à medida que o tempo foi passando. Que haveria antagonismos irreparáveis no seio do M.F.A. e do Conselho da Revolução; que, inclusivamente, já teria havido um golpe de estado; que tropas vindas daqui e de além marchavam sobre Lisboa; que o Primeiro-ministro se demitira; que o Ministério de Trabalho fora evacuado; que no decorrer da noite passada se desencadearia um golpe fascista. Enfim, Lisboa e o País em geral foram invadidos por uma vaga alterosa do ‘diz-se que’ dificilmente localizável”