segunda-feira, 22 de março de 2004

Estranhas elegias

Tanto lamento varre hoje o Ocidente por causa do Hamas!
É verdade que a operação israelita surgiu fora do tempo e da oportunidade, no quadro da previsibilidade política - e filantrópica - que muitos projectam sobre o Médio Oriente.
É verdade que a simples espiral de violência e a sucessiva roda de retaliações não auguram nada de bom, nem poderão constituir-se como método político credível e com futuro para o Médio Oriente.
É verdade que há uma guerra em curso no Médio Oriente entre o exército de um país democrático e um conjunto de facções que representam pessimamente os palestinianos.
Sendo tudo isto verdade, parece, contudo, delirante esta tendência que Fernando Gil, Paulo Tunhas e Danièle Cohn caracterizaram recentemente como “ódio a si próprio” e que conduz sistematicamente um mar de vozes, sobretudo no Ocidente europeu, a visar Bush, Blair ou Israel e a esquecer - ou a pôr de lado - patologias políticas não democráticas tais como a Coreia do Norte, Fidel de Castro ou o terrorismo mais radical (entre ele o do Hamas).
Não me guio por estes binarismos auto-flageladores.
O critério que me guia é a democracia e a liberdade (e não qualquer tipo de antipatia ou de legalismo estático). Os EUA, o Reino Unido e Israel são países democráticos e livres e por isso mesmo as lógicas de poder aí dominantes podem ser destituídas regularmente pelo povo. O mesmo não acontece, infelizmente, noutros cenários. Nomeadamente no cenário de terror onde o Hamas se move e age.
Há lamentos e lamentos, mas convenhamos: elegias dedicadas a um cérebro do terrorismo parecem-me de facto excessivas.