sexta-feira, 12 de março de 2004

Eles e o seu W de estimação

Há blogues (e autores não blogueadores) que eu leio quase diariamente e que prezo pela inteligência, pela ironia, pela densidade e pela coragem. Contudo, verifico que muitos dos textos desses autores podiam ter um brilho e uma riqueza muito maiores. E porquê? Porque antes de enunciados já estão em subliminar estado de alerta. Visando W ou contestando W. Há sempre o objecto W de que falam, que ironizam, contra o qual falam, ou que tão-só denunciam. É como se estivessem hipnotizados por W, seu oponente profundo (e que pode ser político, ideológico, estético, esquerdo, direito, geracional etc.). É como se tivessem inevitavelmente que inventar uma arena limitada onde se debatem com W, ainda que, ao mesmo tempo, continuem a falar nos seus textos das coisas mais diversas do universo. Esquecem que existe todo um espaço múltiplo e plural para intervir, um imenso volume multipolar, preferindo antes optar por uma elementar linha para a sua intervenção (onde há muito, e se calhar para sempre, contracenam linearmente com W). É pena que assim seja, mas parece que a duplicidade de hemisférios tem um peso somatosensorial considerável.