segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004

Silent Night

O que acho piada em Manuel de Oliveira são as vozes das personagens que raramente se coadunam com o registo esperado. Uma mãe fala para uma filha como se falasse para uma assembleia de heróis intemporais. E fá-lo com um ar quase divino, enquanto a criança diz que sim (como se se limitasse a pedir mais um chupa-chupa ). A muitos arrelia, mas a mim faz-me sorrir. E é um sorriso que não compensa absolutamente nada, mas também não desperdiça seja o que for. É um sorriso cúmplice com (um certo pasmo que habita) o inesperado. Está na moda dizer mal do Manuel de Oliveira, mas há outras dores de corno piores. É por isso que meio mundo passou tempo e tempo a dizer mal de Blair e agora, subitamente, achou por bem dedicar-se ao silêncio mais sepulcral.