sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

Mundanidades - 2

À compreensão do outro que consegue excluir o imediatismo precipitado de um juízo pode chamar-se compaixão (uma espécie de suspensão fenomenológica aplicada ao face a face mais imprevisto do quotidiano). Este tipo de procedimento acolhe a humildade e convoca o temporário alheamento das paixões próprias. Por vezes é, ou seria, mais necessário do que a exaltação do génio mais brilhante. Não confundir com o desinteresse (da estética de kant), ou com a inibição de quem observa o mundo; trata-se antes de uma atitude activa face ao outro que não implica a alienação face ao mundo corrente. A compaixão exige, nesta linha de ideias, um desdobrar de vários planos ou olhares. É isso que a torna difícil, pouco praticável, distante. Infelizmente. A mundanidade seria mais rica se este tipo de inteligência (meio ofuscada) - que é a compaixão - fosse mais abundante. Decerto que contribuiria para arrepiar caminho às monovisões, aos exclusivismos doutrinários e aos fechamentos esquerda/direita.