domingo, 19 de outubro de 2003

Da talha às encenações de hoje.



Percorri estradas e estradas sob chuva. Vi as Berlengas ao longe e uma talha dourada em movimento que acalentava a profusão excessiva das colunas até ao dealbar dos anjinhos a mediarem o grande cofre esférico. Saturação formal e, ainda assim, um pleno reconforto para o olho cansado do pescador. De um lado repete-se o mar, do outro a catadupa de imagens que ascende ao denegar de qualquer espaço. E isto porque o que a talha dourada nos confessa é justamente a impossibilidade de contar mais do que ela mesma, na sua contorção sem fim, nos consegue delegar. A exaustão do barroco é esta escrita no osso e é esta depuraçao máxima que se reveste exteriormente pela extrema e labiríntica amalgama formal que as disfarça. A última grande farsa da felicidade antes da era das encenações racionalizadas (coreanas, atalaianas ou jamorianas).