domingo, 7 de setembro de 2003

O 11 de Setembro revisitado - 3

Diz-se nas páginas do Valete Fratres e é verdade:

"Twenty years ago, liberal or conservative outlooks had little bearing on one's views of Israel or other Middle East issues. During the Cold War, Middle Eastern problems stood largely outside the great debate of that era - policy toward the Soviet Union - so views of the Arab-Israeli conflict, Iraq, militant Islam and other topics were formed in isolation from larger principles.
Today, all that has changed. The Middle East has replaced the Soviet Union as the touchstone of politics and ideology. With increasing clarity, conservatives stand on one side of its issues and liberals on the other".


O eixo da guerra fria transpôs-se de facto, na última década, para o Médio-Oriente. De tal modo que, a par dos lentos e exíguos caminhos que tentam apontar para a democracia e para a coexistência possível na região, também o terror passou a utilizar na sua legenda de imagens de morte (não ouso chamar-lhe retórica) o pretexto, os factos e alguma ficcionalidade mediática ligada ao médio-oriente. Após o 11 de Setembro de 2001, a luta suicidária do lado palestiniano tornou-se uma constante. Como dantes não acontecia. Factos são factos. Sharon também não é um líder que tenha um eclectismo e uma versatilidade para lidar com o fenómeno.
Seja como for, o 11 de Setembro fez com que o mundo não voltasse a ser o mesmo. Nem mesmo no local para onde se viram todos os olhares e todas as tentações. E não haverá qualquer solução exclusiva para o Médio-Oriente fora deste processo muito mais vasto que é o próprio 11 de Setembro. Repito: o 11/09 não foi um dia, um evento, um facto. Foi a mais recente fissura que se abriu no planeta e que extremou posições entre os vários rostos da cultura da morte e os caminhos da democracia. Num mundo dominado pela hiper-realidade e pelo instantanismo tecnológico global, esta nova fissura não é apenas o simulacro de mais uma guerra. É sobretuo a tentativa de anulação de uma parte pela outra (é esse o desígnio dos terrorismos).
Daí que o 11/09 seja o prenúncio e seja também a actualidade de uma radicalização para a qual as democracias - parece-me - ainda não começaram a defender-se convenientemente.
Há muitos cegos, há muitos que não querem ver e há ainda mais que, vendo, dizem nada ver.