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segunda-feira, 14 de julho de 2008

Quinto Aniversário do Miniscente (cont.)

e
Na véspera do quinto aniversário do Miniscente, deixo aqui mais quatro de treze poemas preparados para celebrar o microacontecimento:
ea
A árvore
w
Existe um salmo
a invadir o antigo rumor de Boticelli
w
basta olhar para as árvores sem género
que gravitam entre o vazio e a folhagem densa

da Primavera
para entender o modo como as formas
semeiam na consciência
uma poeira fina de argila vermelha
que nos traz
rosto a rosto
dia a dia
o horizonte quase inabitado.
w
A procura
e
Disse que o caminho era longo
uma descida íngreme entre o vestígio dos caules e a

lentidão da voz
e
trouxe o musgo em que imaginámos
os acampamentos e o fulgor das
vias e viadutos à procura do mundo
e
seguiu pela grande estrada e era já

demorada a saudade dos moinhos de vento
escarnecidos pela luz

da cidade.
e
O pólen
e
Subia pela rua que ia dar ao pólen
e
foi nesse dia que reviu
figueiras esvaídas e a luz que as abelhas
consumiram

para ver passar
e
a beleza


que era o nome desse incêndio
ee
A noite
e
Estava reclinada sobre a noite
a entrever as giestas e um desses volumes
de alvenaria que irão dar à alma
e
dizia
e
que Vermeer era
o pintor
que teria gostado de a ver
e
voaria através da luz inclinada
e dessa penumbra inventaria a noite
que o rio já absorveu.